quarta-feira, 3 de março de 2010

Para Helen (Whitman)

Eu te vi uma vez – só uma – anos atrás:
Não posso dizer quantas – porém não muitas.
Era uma meia-noite de julho; e lá fora
A lua esférica, tal tua alma, planando,
Procurava um caminho através do céu,
Lá caiu um sedoso-prata véu de luz,
Com o mormaço, calmaria e sonolência,
Acima dos rostos revolvidos de mil
Rosas que vicejavam num jardim de encanto,
Onde não se agitava o vento, ou só de leve –
Caiu nos rostos revolvidos dessas rosas
Que deram, em retribuição ao amorluz,
As almas aromáticas em morte extática –
Caiu nos rostos revolvidos dessas rosas:
Sorriam e morreram no canteiro, encantado
Por ti, e em poesia de tua presença.

Vestida toda em branco, em banco violeta
Eu te vi semi-reclinada; enquanto a lua
Caiu nos rostos revolvidos lá das rosas,
E no teu próprio, revolvido – ai, em tristeza!

Foi o Destino, na meia-noite de julho –
Foi o Destino (cujo nome é também Tristeza),
Que me parou diante daquele portão
Para aspirar o incenso das rosas em sono?
Nenhum passo ecoou: dormia o odiado mundo,
Menos você e eu apenas (Oh, céu! – Oh, Deus!
Como vibro juntando essas duas palavras!)
Menos você e eu apenas. Parei – Olhei –
E num instante todas as coisas sumiram.
(Ah, lembre-se que esse jardim era encantado!)
O fulgor perolar da lua foi-se embora:
Bancos musgosos e caminhos sinuosos
Flores felizes e as árvores murmurantes

Não mais vistas: os próprios aromas das rosas
Feneceram nos braços dos ares que adoram.
Tudo – tudo expirou menos tu – menos tu:
Exceto apenas a luz divina em teus olhos –
Exceto talvez a alma em teus olhos erguidos.
Eu só via eles – eram o mundo pra mim.
Eu só via eles – só os via durante horas –
Somente os via até que a lua fosse embora.
Que incultos contos de amor parecem escritos
Sobre as celestiais esferas cristalinas!
Quão escuro um pesar! mas quão bela a esperança!
Quão silentemente sereno uma mar de brios!
Quão ousa uma ambição! no entanto quão profunda –
Quão abismal a capacidade de amar!

Mas agora, afinal, Diana sai da vista,
Para um divã oriental de nuvem negra;
E tu, um espectro, entre as árvores tumulares
Te evolaste. Somente os olhos teus ficaram.
Eles não partiram – nunca mesmo foram.
Clareando meu rumo para casa à noite,
Não me deixaram (como as esperanças) desde então,
Eles me seguem – levam-me através dos anos –
São meus serventes – eu porém escravo deles.
Seu ofício é iluminar e estimular –
Minha função, salvar-me em sua luz brilhante,
E ser purificado em sua flama elétrica,
Também santificado no seu fogo elísio.
Enchem minha alma de Beleza (Esperança),
E longe estão no Céu – astros a quem me ajoelho
Tristes, quietos, vigias de minha noite;
E no meridiano irradiar do dia
Ainda os vejo – duas belas cintilantes
Vênus, jamais exterminadas pelo sol.

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