quarta-feira, 3 de março de 2010

O Coliseu

Signo de Roma antiga! Rico relicário
De grandioso contemplar entregue ao Tempo
Por séculos sepultos de poder e pompa!
Afinal – afinal – depois de tantos dias
De penoso peregrinar e sede ardente
(Sede das fontes de saber que em ti ficaram),
Ajoelho-me, um homem humilde e mudado,
No meio de tuas sombras, e bebo dentro
Da própria alma tua grandeza, glória e trevas!

Imensidão! e Idade! e Memórias de Outrora!
Silêncio! e Tristeza! e uma Noite difusa!
Sinto-vos neste instante – sinto-vos na força –
Ó enlevos infalíveis, nem Rei da Judéia
Jamais os ensinou nos jardins de Getsêmani!
É encantos mais pujantes, que a Caldéia em êxtase
Jamais arrebatou lá das estrelas tranqüilas!

Aqui, onde caiu um herói, cai uma coluna!
Aqui, onde a águia mimética luziu em ouro,
Um vigia à noite contém o morcego negro!
Aqui, onde as damas romanas, cabelos dourados
Ondulavam ao vento, ondulavam o cardo e o junco!
Aqui, onde em trono de ouro flanava o monarca,
Desliza, espectro, até sua mansão de mármore,
Pela lívida luz da lua em corno, aceso
O silente e veloz lagarto das lápides!
Mas ficam! muros – arcadas cobertas de hera –
Os plintos em pó - úmidos e preto fustes –
Vagos entablamentos – frisos desagregados –
Cornijas em pedaços – o caos – a ruína –
Estas pedras – ai! estas pedras pardas – são todas
Todas elas da fama, e o colossal legado
Por horas corrosivas ao Destino e a Mim?

"Nem tudo" - os Ecos me respondem - "nem tudo!
"Sons altos e proféticos, erguem-se sempre
"De nós e da Ruína até o conhecimento,
"Tal qual a melodia de Mêmnon ao Sol.
"Regemos almas de homens do poder - regemos
"Com um vaivém despótico mentes imensas.
"Não somos impotentes - nós, pálidas pedras.
"Todo o nosso poder não se foi - nem a fama -
"Nem toda a mágica de nosso alto renome -
"Nem toda maravilha que aqui nos rodeia -
"Nem todos os mistérios que em nós permanecem -
"Nem todas as memórias que pairam acima
"E estão girando em torno a nós qual vestuário
"Guarnecendo-nos num manto maior que a glória."

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